Conversei com Milena Lopes, sócia e cofundadora da Agridoce Loja, para entender como uma loja colaborativa no interior pode ter sucesso. Com uma curadoria e um posicionamento impecáveis, a Agridoce é ponto turístico de Feira de Santana! Vem entender como surgiu e como a loja virou destaque da economia criativa.
1- Como e quando a Agridoce surgiu?
Então, a agridoce surgiu em janeiro de 2017. Durante todo o ano de 2016 a gente já estava se planejando para isso. A gente tinha uma marca de roupas então já nasceu dessa necessidade, né, enquanto empreendedores eu e Alan, de criar um local que tivesse espaço para venda de produtos não só nossos, mas de outros parceiros, de outras pessoas também que tinham essa mesma dificuldade. Antes a gente só conseguia expor, vender os produtos em feiras, em eventos que a gente participava, ou de forma online, e-commerce, nas redes sociais - na época facebook- e aí a gente sentia muito essa necessidade. Então em janeiro de 2017 a gente resolveu vir pra Feira de Santana, eu sou daqui mas na época estava morando em Serrinha. Resolvi pedir demissão do trabalho, voltar para Feira de Santana e resolvemos abrir a Agridoce, e já começar o ano nesse projeto que a gente acreditava que daria muito certo. Até então não tinha nenhuma loja colaborativa em Feira de Santana, então a gente viu também ali uma oportunidade para começar esse conceito de economia colaborativa, criativa, incentivando a compra local de pequenos empreendedores aqui na cidade.
2- Percebo um alinhamento forte entre o que a loja prega e as marcas. Como você escolhe/decide as marcas que participarão da loja?
A gente tem uma curadoria, que é essa avaliação mesmo. Quando a marca se interessa em participar da loja a gente entra em contato para saber como os produtos são feitos, até em relação não só a produção, mas também quem produz, se está alinhado com o nosso pensamento. Então já teve vezes de chegar uma marca aqui, que eram produtos que tinham uma mensagem machista, homofóbica, então imediatamente a gente recusou que aquela marca fizesse parte da loja porque ia de encontro ao que a gente pensava, as coisas que a gente defende, que a gente acredita. Então realmente existe essa curadoria. Assim como marcas grandes também que já existem no mercado, a gente também não prioriza a venda delas na loja. Já entraram em contato pessoas que são representantes de cosméticos, de grandes multinacionais, enfim, marcas que já estão no mercado a muito tempo, que tem um outro tipo de estrutura, para querer fazer parte da loja mas a gente também não aceita porque vai de encontro ao que a gente acredita em relação ao uso dos cosméticos, ao uso de certas marcas e de apoio mesmo aos pequenos empreendedores que é o foco principal da loja, então não fazia sentido ceder um espaço para um produto que já está no mercado a muitas décadas, que tem uma estrutura inclusive da qual a gente discorda, que é exploratória, predatória, não faz parte do que a gente pensa.
3- Normalmente se acredita que as lojas do interior são menores e menos reconhecidas. Como a agridoce passou a ser referência na Bahia, vindo inclusive clientes da capital comprar aqui?
A gente aqui em Feira sofre muito disso, da falta de reconhecimento em alguns setores, inclusive era uma das coisas que me incomodava muito aqui em Feira era essa questão, as pessoas achavam que precisavam ir para Salvador, para a capital, para adquirir certos produtos, pra comprar algo relacionado a arte, a moda, enfim, coisas que na visão delas não existia aqui na cidade. E ao participar das feiras, de eventos, inclusive eventos ligados a cultura, a arte, eu percebia que tinha muita coisa aqui na cidade, só que não era vista, não era reconhecida, não era dado a valorização que merecia, então umas das coisas que me fez querer peitar essa loja colaborativa, dessa forma, em Feira de Santana, foi isso, foi valorizar essa cultura, a arte, os produtos daqui da nossa cidade, que nós mesmos feirenses não chegamos a conhecer, não temos contato, não tem onde comprar, onde adquirir, enfim, essa é uma das grandes questões de valorizar essa produção local que a pessoa não tem que ir para outra cidade, para outros lugares comprar algo que tem aqui em Feira.
É, até não sei, não sei dizer a palavra, mas assim, as vezes chega a ser esquisito chegar num lugar como Salvador ou outras cidades, e as pessoas reconhecerem ou eu ou Alan, como partes da Agridoce e falarem com a gente que acham a Agridoce muito legal, que acompanha a nossa história, nossa proposta. Tem clientes que vêm de Salvador, inclusive, que já me disseram isso, que apesar de ter várias lojas em Salvador, que elas acabam se identificando mais com a Agridoce, que gostam, que se sentem bem aqui no espaço, que gostam dos produtos, então para a gente é uma honra ter esse reconhecimento. Claro que a partir de muito trabalho, um trabalho intenso aqui de divulgação, de fortalecimento, de evolução mesmo, tanto na comunicação, na gestão, em tudo que a gente faz, então é meio que uma surpresa muitas vezes encontrar pessoas que vem falar com a gente sobre isso mas também é motivo de muito orgulho que a gente tem em saber que estão nos vendo enquanto uma referência.
4- Por que vocês mudaram para um ponto maior? Como foi essa decisão?
Esse já é o terceiro ponto físico da Agridoce, porque em 2016 a gente alugou um ponto bem pequeno, muito pequeno mesmo, e que foi ficando ainda menor pelo tanto de pessoas, de marcas que iam entrando, que iam gostando, acreditando na proposta, então a gente passou em 2017 para um ponto que era 3 ou 4 vezes maior do que aquele inicial, e novamente ficou muito pequeno para o tanto de marcas e de pessoas que iam se afinando com essa proposta, que queriam fazer parte, então em 2018 a gente resolveu que precisava mudar porque o espaço já não estava dando conta de caber todas aquelas ideias, projetos. E aí a gente conseguiu esse ponto bem maior que inclusive tem um mezanino, então a gente pôde fazer com mais conforto, com mais tranquilidade os eventos que sempre tivemos na loja, pôde também ter essa parte do café mais organizada, e pôde receber mais marcas, deixar o espaço mais bonito, mais acolhedor, mais aconchegante então foi algo que surgiu a partir dessa necessidade, de ir ficando pequeno para o que a gente já tinha projetado antes.
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